sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A espera...


A espera...

Vejo os olhares aflitos, curiosos. Desejosos de encontrarem os seus olhos.
Olhares ansiosos, admirados; alguns acanhados.
Depois do evento, frio e garoa. Nem assim as pessoas se vão...
A pequena multidão te espera. Mas espera porque se já te ouviram falar, se suas palavras já alcançaram seus corações, se já cantaram suas canções?
O que esperam então? Uma foto mais de perto ou mesmo com você? Um aceno ou um sorriso? Não sei; só posso imaginar.
Olho os rostos cansados, molhados pela garoa fina. Olhos fixos na porta de onde esperam ver sua saída.
A espera...
_: Ele não vem não gente. Vem sim, sempre vem. Está demorando. Já foi embora, saiu por outra porta...
E a espera...
Espera de quê? O que esperam mais de você?
Já não te vêem sempre na televisão, nos shows? Já não lêem seus livros, compram seus discos, ouvem suas palestras?
Já não te viram ainda agorinha?! Mas ainda esperam...
Olho de novo a pequena multidão; o que esperam aqui essas pessoas? Essas mulheres, esses jovens, crianças, esses senhores?
Tanta gente, tantas histórias. Histórias que de algum jeito, agora você faz parte!
-Penso: Mas porque toda essa gente aqui meu Deus? Porque esse povo não vai embora?
Será que não tem mais o que fazer? Coisa irritante isso!
E a espera...
Nas mãos das pessoas, vejo além das câmeras digitais, (todo mundo tem a sua hoje em dia) fotos de outras pessoas, com mensagens de gratidão, bilhetinhos, cartas, pequenos embrulhos, flores...
-Ô povo insistente, por isso ele não vem, (penso de novo). Tá cansado quer ir embora.
Será que ninguém se toca?!
Tomara que não venha mesmo, que demore mais ainda. Quem sabe mais meia hora e um pouco mais de frio ou garoa, faça essa gente desistir.
Mas ninguém arreda pé!
E a espera...
De repente a porta se abre. Euforia entre os já molhados presentes, mas não é você.
Segue-se um sonoro e coletivo: ahhhh!
Começo a rir baixinho. Maldade eu sei, mas foi engraçado...
_Ai que bom! Já tem gente indo embora. Mais um pouco e vai todo mudo.
Quanto mais demora menos gente! Conclusão egoísta confesso.
Alguém do meu lado resmunga: “Agora que ficou famoso é que não vem mesmo”
Com muito esforço, consigo conter meu impulso de dar-lhe uma cotovelada nas costelas e, limito-me a um olhar de desaprovação fulminante.
E a espera...
A porta novamente se abre, Finalmente você aparece. Se espanta ao ver tanta gente ainda por ali. Se emociona...
Todos te chamando: Padre! Padre, por favor! Padre, aqui...
Percebo a angustia nos seus olhos; a dor de não conseguir atender a todos, abraçar a cada um.
Alguns conseguem tocar suas mãos, outros recebem um aceno, um “oi meu filho”, um “Deus te abençoe”.
Fotos, flashes, lágrimas, um pequeno tumulto.
Você assustado, pede: Calma minha gente, calma!
Sorri. E seu sorriso acalma os mais exaltados.
Sorriso tímido, olhos atentos, mãos tremulas...
O que será que pensa nessa hora?
Talvez um sentimento de impotência, uma agonia. Talvez uma prece silenciosa!
Limito-me a observar em silencio. Observo as pessoas e suas reações em sua presença.
Alguns excessos? Sim; mas o que prevalece nesse momento é o desejo de tocar o sagrado que você representa.
Senti meu coração disparado... Não sei dizer por que fiquei também tanto tempo te esperando. Só sei, que a emoção que me causou teus olhos tocarem os meus, fez valer a pena...
Obrigada padre Fabio!

Sua benção.
Luciana seloy

2 comentários:

  1. Luciana,boa noite...que coisa mais linda esse texto " A espera ",é de sua autoria? Achei muito interessante a ternura que vc teve,ao descrever aqueles momentos em que ficamos ali,depois dos eventos,esperando para receber um abraço,um aperto de mão,uma benção...ou apenas um aceno,enfim...você disse aquilo que nós,muitas vezes nem entendemos o porque.Parabéns!!!

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  2. É meu sim patrícia> Obrigada! Que bom que gostou...
    Abraços e fique bem

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