terça-feira, 27 de abril de 2010

Escolha o Amor


Todos os dias fazemos escolhas em nossas vidas. Algumas escolhas são mais simples; outras, mais complexas. Escolhemos a roupa, o sapato, a alimentação, o trajeto. Escolhemos a escola, o trabalho, as prioridades. Como não é possível resolver todos os problemas de uma única vez, vamos escolhendo aqueles que precisam ser solucionados antes. Escolhemos no supermercado, na loja, a forma de pagamento.

Algumas escolhas simples ficam complicadas quando complicamos a vida. Fazer um almoço se torna um calvário para quem está angustiado. Ter de escolher o que fazer e que agrade às outras pessoas da família parece um trabalho insano.Escolher a escola dos filhos. Escolher a mudança de emprego. Aos poucos as escolhas vão exigindo mais reflexão e o resultado da escolha vai ficando mais sério. Uma coisa é escolher a comida errada no cardápio e decidir que não vai pedir mais aquele prato. Outra coisa é perceber que casou com a pessoa errada. A escolha do casamento tem de ser mais demorada do que a do produto de uma prateleira em um supermercado.

Como somos imperfeitos, a dúvida sempre fará parte de nossas escolhas. E é diante da dúvida que amadurecemos. Pessoas que têm certezas absolutas erram mais e sofrem mais com isso. A dúvida nos torna mais humildes, mais abertos ao diálogo.Nesses momentos é que percebemos a nossa maturidade frente aos obstáculos. Os mais concretos ou os mais abstratos.

Uma modesta sugestão: diante das dúvidas que surgirem, escolha o amor. Diante de sentimentos mesquinhos como a inveja, o ciúme, a vingança; escolha o amor. Antes de falar, pense. Mas pense com amor. Antes de agredir, lembre-se de que o tempo da cicatriz é mais demorado do que o tempo do comedimento. Antes de usar a palavra como instrumento de maldizer, lembre-se de que o silêncio é o grande amigo e de que, na dúvida, o outro deve receber a sua compaixão. Diante do comodismo, da alienação, escolha o amor em ação. Assim fizeram os apóstolos, mesmo sabendo que seriam incompreendidos; assim fez Francisco de Assis quando ousou chamar a todos de irmãos; ou João Bosco com os jovens que só se aquietavam quando se sentiam amados.

Assim fez Madre Tereza de Calcutá que fazia a escolha do amor diante de cada próximo que dela precisasse.

Diante da boa dúvida, é bom pedir ajuda. Para os irmãos e para Deus, a Essência do Amor.

Os desafios são muitos. É por isso que sozinho fica difícil. Como diz a canção:

Eu pensei que podia viver, por mim mesmo. Eu pensei que as coisas do mundo não iriam me derrubar.

E a oração continua e, com ela, nossa certeza: Tudo é do Pai. Toda honra e toda glória. É Dele a vitória alcançada em minha vida.

Que sejamos responsáveis em nossas escolhas mais simples ou mais complexas. Mais uma vez, com amor, tudo fica mais fácil e mais bonito!

sábado, 24 de abril de 2010

Hei, amigo


Pela amizade que você me vota
Por meus defeitos que você nem nota
Por meus valores que você aumenta
Por minha paz que você alimenta

Por esta fé que nós nos transmitimos
Por este pão de amor que repartimos
Pelo silêncio que diz quase tudo
Por este olhar que me reprova mudo

Por esta mão que diz pra eu seguir em frente
Porque você não cala nunca e não consente
Pela pureza dos seus sentimentos
Pela presença em todos os momentos

Hei amigo, hei meu irmão
Aceita a minha gratidão

Por ser presente mesmo quando ausente
Fica feliz quando me vê contente
Por rir comigo quando estou risonho
E ficar triste quando estou tristonho

Por repreender-me quando estou errado
Por meu segredo sempre bem guardado
Por seu segredo que só eu conheço
E por achar que apenas eu mereço

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nossa vida é um desafio diário e não há tréguas.


Temos de viver uma religião que seja capaz de mexer com as estruturas da nossa consciência a ponto de nos fazer acordar para tudo aquilo para o qual nós dormíamos e não sabíamos que existia dentro de nós. Já estávamos inconscientes e acostumados com o nosso jeito ciumento de amar, com nosso jeito ciumento de possuir as pessoas, achando que isso era amor. Muitos de nós já éramos desonestos nas pequenas coisas e já estávamos acostumados com isso também. Até que um dia uma palavra profética varou as estruturas da nossa vida e nos incomodou.

Uma palavra profética tem o poder de acordar os surdos e aqueles que estão dormindo e que já não escutam mais nada, num sono letárgico ou até mesmo num cumprimento de rituais inférteis, que já não servem de nada para a nossa salvação.

"É a continuidade da Santa Missa que nos salva, é a história que fica diferente em cada comunhão comungada, em cada mesa partilhada, em cada confissão realizada, é o que se segue a partir daí que nos salva. O sacramento não é a mágica de um momento, mas é a continuidade da vida que vai sendo incorporada, porque o sacramento aconteceu em nós."

É disso que Jesus fala: “Não venha me dizer o que você fazia antes, não me importa o que você fazia. Importa-me o que você era. O que faz diferença para mim é o quanto a minha Palavra conseguiu transformar o seu coração a ponto de transformá-lo numa pessoa melhor”. De você olhar para trás e dizer: “Antes eu era assim, e pela força da Eucaristia, do Evangelho, do terço, eu mudei” – todas as manifestações religiosas que você pode ter e viver. Você percebe que a sua vida não é mais a mesma, porque você mudou o seu jeito de pensar, modificou o seu jeito de ser.

Humanidade é isto: é trazer a luz do Ressuscitado para nós e ver que há muito para ser limpo em nosso interior. O anúncio do Evangelho é para aprendermos que não temos de ficar com as nossas poeiras e impurezas. A religião que Jesus quer de nós é esta: que fixemos os olhos no céu, que busquemos o céu. Religião que só nos mostra a cruz é uma religião infértil, porque eu não sou filho do Calvário; eu sou filho do Ressuscitado! E quem eu anuncio sempre é o Ressuscitado.

Você não pode ficar parado no "calvário da sua vida"; todos nós passamos todos os dias por ele. Você acha que a gente vai ser santo sem sacrifício? A semente passa por todo um processo de crescimento, mas ela sabe que se não deixar de ser o que é, não atingirá seu objetivo.

"A dor é o preparo. A sua dor não pode ser em vão. O que você faz com o seu sofrimento? Faz um quadro? Faz música? A genialidade está em transformar a lata velha em ouro. Ou a dor me destrói ou eu a transformo em processo de ressurreição."

Nossa vida é um desafio diário e não há tréguas. É um "lapidar" constante, tirando tudo o que é excesso em nós. Se eu não tivesse sofrido do jeito que sofri, se eu não tivesse amado do jeito que amei, eu não teria nada para contar a vocês.

Não sinta vergonha de nada que você sofreu, porque depois que passou por aquele momento, você sabe o que você sofreu para chegar aonde chegou.

domingo, 11 de abril de 2010

Meu sonho bonito




Como é bom quando me falas suave
Sentir-te aqui com tua mão leve, forte ...
Mesmo que não estejas.
Me envolve. Espalhas amizade, amor e carinho
Como suave canção sinto-te perto

O tempo oferece tanta vontade do que não foi plenamente vivido
Mas não deixes, menino, não cedas....
És anjo, és sábio, forte e podes sentir-se amado
Como bem sabes... Mesmo de tão longe,
Sem que no caminho te percas

Nas tuas noites sozinho(te escuto),
Observo-te de longe, menino!
E me abraça, mesmo que não te veja... mas sinto
Tão puro e sublime, quase santamente
És o meu sonho bonito!
E eu? Teu pesadelo?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O que há por trás dos escândalos?





Por: Máximo Introvigne, diretor do "The Center for Studies on New Religions" (CESNUR), que reúne um grupo de estudiosos de grandes universidades da Europa e das Américas.

Artigo publicado no jornal dos bispos italianos Avvenire, 18-03-2010.

A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Eis o texto.

Volta-se a falar de padres pedófilos, com vozes e acusações que se referem insistentemente à Alemanha e a tentativas de envolvimento de pessoas próximas ao Papa, e acredito que a sociologia também tem muito a dizer e não deve calar pelo medo de descontentar alguém. A discussão atual sobre os padres pedófilos – considerada do ponto de vista do sociólogo – representa um exemplo típico de "pânico moral". O conceito nasceu nos anos 70 para explicar como alguns problemas são objeto de uma "hiperconstrução social".

Mais precisamente, os "pânicos morais" foram definidos como problemas socialmente construídos e caracterizados por uma amplificação sistemática dos dados reais, tanto na representação midiática quanto na discussão política. Outras duas características foram citadas como típicas dos "pânicos morais". Em primeiro lugar, problemas sociais que existem há décadas são reconstruídos nas narrativas midiáticas e políticas como "novos", ou como objeto de um suposto e dramático crescimento recente. Em segundo lugar, a sua incidência é exagerada por estatísticas folclóricas que, mesmo que não confirmadas por estudos acadêmicos, são repetidas por um meio de comunicação ao outro e podem inspirar campanhas midiáticas persistentes.

Philip Jenkins destacou o papel de "empresários morais", cujas agendas nem sempre são declaradas, na criação e gestão dos pânicos. Os "pânicos morais" não fazem bem a ninguém. Distorcem a percepção dos problemas e comprometem a eficácia das medidas que deveriam resolvê-los. A uma má análise só pode seguir uma má intervenção. Entendamo-nos: os "pânicos morais" têm, na sua origem, condições objetivas e perigos reais. Não inventam a existência de um problema, mas exageram suas dimensões estatísticas. Em uma série de valiosos estudos, o próprio Jenkins mostrou como a questão dos padres pedófilos é talvez o exemplo mais típico de um "pânico moral". Estão presentes, de fato, os dois elementos característicos: um dado real de partida e um exagero desse dado por obra de ambíguos "empresários morais".

Acima de tudo, o dado real de partida. Existem padres pedófilos. Alguns casos são ao mesmo tempo chocantes e repugnantes, levaram a condenações definitivas e os próprios acusados nunca se proclamaram inocentes. Esses casos – nos EUA, na Irlanda, na Austrália – explicam as severas palavras do Papa e o seu pedido de perdão às vítimas. Mesmo se os casos fossem só dois – e infelizmente são mais – seriam sempre dois casos relevantes. Porém, a partir do momento em que pedir perdão – mesmo que seja nobre e oportuno – não basta, mas é preciso evitar que os casos se repitam, não é indiferente saber se os casos são dois, 200 ou 20 mil. E não é nem um pouco irrelevante saber se o número de casos é mais ou menos numeroso entre os sacerdotes e os religiosos católicos do que em outras categorias de pessoas. Os sociólogos muitas vezes são acusados de trabalhar sobre números frios, esquecendo-se que, por trás de cada número, há um caso humano.

Mas os números, embora não sejam suficientes, são necessários. São o pressuposto de toda análise adequada. Para entender como de um dado tragicamente real se passou a um "pânico moral" é então necessário se perguntar quantos são os padres pedófilos. Os dados mais completos foram recolhidos nos EUA, onde, em 2004, a Conferência Episcopal solicitou um estudo independente ao John Jay College of Criminal Justice da City University of New York, que não é uma universidade católica e é unanimemente reconhecida como a mais notável instituição acadêmica dos EUA em matéria de criminologia.

Esse estudo nos diz que, de 1950 a 2002, 4.392 sacerdotes norte-americanos (de mais de 109.000) foram acusados de terem tido relações sexuais com menores de idade. Desses, pouco mais de uma centena foram condenados por tribunais civis. O baixo número de condenações por parte do Estado deriva de diversos fatores. Em alguns casos, as vítimas verdadeiras ou supostas denunciaram sacerdotes já falecidos, ou havia sido atingido o término da prescrição. Em outros, a acusação e também a condenção canônica não corresponde à violação de alguma lei civil: é o caso, por exemplo, de diversos Estados norte-americanos, em que o sacerdote teve uma relação com uma – ou também um – menor de idade maior de 16 anos e consciente.

Mas houve também muitos casos chocantes de sacerdotes inocentes acusados. Esses casos se multiplicaram nos anos 90, quando alguns estudos legais entenderam que poderiam arrancar transações milionárias até com base em simples suspeitos. Os apelos à "tolerância zero" são justificados, mas também não deveria haver nenhuma tolerância nem para quem calunia sacerdotes inocentes. Acrescento que, para os EUA, os números não mudariam de modo significativo se se somasse o período 2002-2010, porque o estudo do John Jay College já notava o "declínio notabilíssimo" dos casos nos anos 2000.

As novas investigações foram poucas, e as condenações, pouquíssimas, por causa de medidas rigorosas introduzidas tanto pelos bispos norte-americanos quanto pela Santa Sé. O estudo do John Jay College diz, talvez, como se lê muitas vezes, que 4% dos sacerdotes norte-americanos são "pedófilos"? Absolutamente não. Segundo essa pesquisa, 78,2% das acusações se refere a menores de idade que ultrapassaram a puberdade. Ter relações sexuais com uma jovem de 17 anos certamente não é algo correto, muito menos para um padre: mas não se trata de pedofilia. Portanto, os sacerdotes acusados de pedofilia efetiva nos EUA são 958 em 42 anos, 18 por ano.

As condenações foram 54, pouco mais de uma por ano. O número de condenações penais de sacerdotes e religiosos em outros países é semelhante ao dos EUA, embora não se disponha de um estudo completo como o do John Jay College para nenhum outro país. Cita-se frequentemente uma série de relatórios de governo na Irlanda que definem como "endêmica" a presença de abusos nos colégios e nos orfanatos (masculinos) administrados por algumas dioceses e ordens religiosas, e não há dúvida de que casos de abusos sexuais de menores até muito graves ocorreram nesse país. A apuração sistemática desses relatórios mostra, além disso, como muitas acusações se referem ao uso de meios de correção excessivos ou violentos. O chamado Relatório Ryan de 2009 – que usa uma linguagem muito dura com relação à Igreja Católica –, de 25.000 alunos de colégios, reformatórios e orfanatos no período que examina, reporta 253 acusações de abusos sexuais de meninos e 128 de meninas, nem todas atribuídas a sacerdotes, religiosos ou religiosas, de natureza e gravidade diversas, que raramente fazem referência a crianças pré-púberes e que ainda mais raramente levaram a condenações.

As polêmicas destas últimas semanas com relação a situações semelhantes na Alemanha e na Áustria mostram uma característica típica dos "pânicos morais": apresentam-se como "novos" os fatos que remontam a muitos anos ou, em alguns casos a até 30 anos, e em parte já conhecidos. O fato de acontecimentos dos anos 80 terem sido apresentados – com uma particular insistência no que se refere à área geográfica bávara, da qual o Papa provém – nas primeiras páginas dos jornais como se tivessem ocorrido ontem, e daí nasçam capciosas polêmicas, na forma de um ataque concêntrico que a cada dia anuncia em estilo gritante novas "descobertas", mostra bem como o "pânico moral" é promovido por "empresários morais" de modo organizado e sistemático.

O caso que – como alguns jornais intitularam – "envolve o Papa" é, a seu modo, de manual. Refere-se a um episódio em que um sacerdote de Essen, já culpado de abusos, foi acolhido na arquidiocese de Munique e Freising, da qual o atual Pontífice era arcebispo e que remonta de fato a 1980. O caso surgiu em 1985 e foi julgado por um tribunal alemão em 1986, que reconheceu, dentre outras coisas, que a decisão de acolher o sacerdote em questão na arquidiocese não havia sido tomada pelo cardeal Ratzinger e nem lhe era conhecida, o que não é estranho em uma grande diocese com uma complexa burocracia.

O porquê de um jornal alemão ter decidido desencavar o caso e o ter jogado na primeira página 24 anos depois da sentença deveria ser colocado em questão. Uma pergunta desagradável – porque o simples fato de pô-la parece defensivo e não consola as vítimas – mas importante é se ser um padre católico é uma condição que comporta um risco de se tornar pedófilo ou de abusar sexualmente de menores – as duas coisas, como se viu, não coincidem, porque quem abusa de uma jovem de 16 anos não é pedófilo – mais elevado do que no resto da população.

Responder a essa pergunta é fundamental para descobrir as causas do fenômeno e, portanto, para preveni-lo. Segundo os estudos de Jenkins, se compararmos a Igreja Católica dos EUA às principais denominações protestantes, descobre-se que a presença de pedófilos é – de acordo com as denominações – de duas a dez vezes mais alta entre os pastores protestantes do que entre os padres católicos. A questão é relevante, porque mostra que o problema não é o celibato: a maior parte dos pastores protestantes é casada. No mesmo período em que uma centena de sacerdotes norte-americanos havia sido condenada por abusos sexuais de menores, o número de professores de ginástica e treinadores de equipes esportivas juvenis – também estes em grande maioria casados – julgado culpados do mesmo crime pelos tribunais norte-americanos chegava aos seis mil.

Os exemplos poderiam continuar, e não só nos EUA. Principalmente, permanecendo nos relatórios periódicos do governo norte-americano, cerca de dois terços dos abusos sexuais de menores não veem de estranhos ou de educadores – incluindo padres e pastores protestantes – mas de familiares: padrinhos, tios, primos, irmãos e infelizmente até pais. Dados semelhantes existem em numerosos outros países. Mesmo que seja pouco politicamente correto dizer, há um dado que é muito mais significativo: em mais de 80%, os pedófilos são homossexuais, homens que abusam de outros homens. E – para citar Jenkins mais uma vez – mais de 90% dos sacerdotes católicos condenados por abusos sexuais de menores e pedofilia é homossexual. Se efetivamente há um problema na Igreja Católica, ele não se refere ao celibato, mas sim a uma certa tolerância da homossexualidade, particularmente nos seminários dos ano 70, quando a grande maioria dos sacerdotes que depois foram condenados por abusos foi ordenada. É um problema que Bento XVI está corrigindo vigorosamente.

Em geral, o retorno à moral, à disciplina asceta, à meditação sobre a verdadeira e grande natureza do sacerdócio são o antídoto último para as verdadeiras tragédias da pedofilia. O Ano Sacerdotal também deve servir para isso. Com relação a 2006 – quando a BBC exibiu o documentário-lixo sobre o parlamentar irlandês e ativista homossexual Colm O’Gorman [vítima de abuso sexual na Irlanda] – e a 2007 – quando Santoro apresentou a sua versão italiana no canal Annozero – não há, na realidade, muito de novo, com exceção da crescente severidade e vigilância da Igreja.

Os casos dolorosos dos quais se fala nestas semanas não foram sempre inventados, mas remontam justamente a 20 ou até a 30 anos atrás. Ou, talvez, haja alguma coisa de novo. Por que desencavar em 2010 casos velhos ou muitas vezes já conhecidos, no ritmo de um por dia, atacando sempre mais diretamente o Papa – um ataque, além disso, paradoxal se considerarmos a grandíssima severidade do cardeal Ratzinger antes e de Bento XVI depois com relação esse tema? Os "empresários morais" que organizam o pânico têm uma agenda que surge sempre mais claramente e que verdadeiramente não tem a proteção das crianças no seu centro. A leitura de certos artigos nos mostra como lobbies muito poderosos buscam desqualificar preventivamente a voz da Igreja com a acusação mais infamante e hoje infelizmente também mais fácil, que é a de favorecer ou tolerar a pedofilia.

Fonte: http://tinyurl.com/ydjuyu9 – 19/3/2010

Cartas Entre Amigos- Sobre Ganhar e Perder-


As indagações do mundo real e a da própria vida diária levaram os amigos Gabriel Chalita e padre Fábio de Melo a se corresponderem por um meio quase esquecido em tempos de e-mails: as cartas escritas à mão. Dessa troca, desse diálogo entre os amigos, surgem de maneira quase iluminadora, respostas para muitas questões que a sociedade ainda espera.
Das reflexões individuais de cada autor nascem as afinidades intelectuais de duas mentes motivadas e envolvidas com nosso tempo, e que trazem ao leitor referências - de textos escritos em outras épocas - que podem ser citadas em qualquer situação do mundo contemporâneo em que vivemos.
Em Cartas entre Amigos: Sobre Ganhar e Perder, de Gabriel Chalita e Fábio de Melo, Machado de Assis, Castro Alves, Guilherme de Almeida, Graciliano Ramos, entre outros escritores, dialogam com as inquietações dos autores e mostram análises confortantes, que aliviam a aparente desesperança de viver no século 21. Já as citações de autoras em plena produção literária, como Adélia Prado e Nélida Piñon, permeiam o livro nos dando a sensação de ser "entendido" por alguém.
Na carta inaugural do livro, Gabriel Chalita lembra como o conhecimento nasce da experiência pessoal, mas cresce pelo convívio e pelo respeito pelo outro. E ensina como a espera e a esperança dão significado à experiência e ao conhecimento, como por exemplo, na frase "esperar é reconhecer-se incompleto".
O livro demonstra que a esperança é por uma humanidade mais fraterna. Porque o mundo contemporâneo impõe "o desafio diuturno de não desistir da pessoa humana". E essas cartas nasceram da aceitação desse desafio, de reinaugurar um futuro com mais solidariedade, empatia, compaixão, respeito e alegria.
Para Fábio de Melo as páginas deste livro são páginas de preservação, um verdadeiro "celeiro de palavras geradoras", já que ambos autores preservam vivas passagens da própria vida para compor este envolvente livro - destinado a conquistar os corações e as mentes de seus leitores.



Autor: Chalita, Gabriel; Melo, Fabio de
Editora: Globo Editora

terça-feira, 6 de abril de 2010

Saudade


Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

(...)


Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz


Charles Chaplin

Por Dentro...


"Faz de conta que ela não estava chorando por dentro, pois agora, mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado."

domingo, 4 de abril de 2010

EUCARISTIA, BAQUETE E SACRIFÍCIO


Em primeiro lugar, devemos saber que Jesus, Cordeiro Pascal imolado, em entrega de amor torna presente no tempo o seu sacrifício eficaz e eterno. A Igreja em obediência à vontade de Cristo realiza o memorial sacrifical. Assim, o memorial do sacrifício da cruz atualiza na história a salvação realizada pelo sacrifício Redentor de Cristo.
Mas, o que faz algo realizado há mais de dois mil anos atrás ser vivido hoje? Como podemos celebrar o mesmo sacrifício de Cristo? O sacrifício pascal do “eterno Sacerdote” é perpetuado no tempo pela força da Ressurreição. Quando no altar se celebra o sacrifício de Cristo se celebra a Páscoa de Cristo, pois no altar da cruz “Cristo, nossa Páscoa foi imolado”. Em seu sacrifício não está presente apenas a paixão e a morte, mas também o mistério da ressurreição, “coroação” do sacrifício de Cristo, como nos recorda João Paulo II na sua carta Ecclesia de Eucharistia, 57. E na aclamação, após a consagração, estas duas realidades vão juntas: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa Ressurreição (...)”. A cruz não anula a Ressurreição, nem a Ressurreição anula a cruz, trata-se de aspectos distintos, mas intimamente ligados: “Imolado já não morre; e, morto, vive eternamente (...)” (cf. Missal Romano, p. 423).

Um sentido profundo da Liturgia mostra tal verdade, quando a mesma busca no, “hoje”, celebrar e reviver os mistérios da salvação. A palavra é usada na missa não para enfeitar ou por beleza poética. Quando na Liturgia diz-se “hoje”, quer-se referir à realização atual do que se celebra. “Hoje”, ao se celebrar a Missa, pode-se, por isso, voltar à “hora” de Jesus, hora do Calvário, hora da glorificação. Não se recebe, por isso, na comunhão um pão que representa Jesus. Mas o seu próprio Corpo e Sangue. Não se celebra ou se participa de um novo sacrifício, mas do mesmo sacrifício de Jesus realizado há mais de dois mil anos. Conforme nos ensina o catecismo da Igreja Católica que se repete é a celebração e não o mistério, o sacrifício (cf. CIC 1104).
Em segundo lugar, vamos à celebração eucarística não simplesmente para assistir; queremos participar. Quando somos convidados por um amigo para uma refeição, não ficamos longe da mesa olhando. O gesto de cear com alguém demonstra proximidade e amizade. A comunhão com Cristo e, por isso, com seu sacrifício se dá de modo real ao se “comer” e “beber”, ao se participar do “Banquete do Cordeiro”. A necessidade de tal comunhão, a modo de ceia, de banquete, é expressa pelo próprio Cristo: “(...) se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes seu sangue não tereis a vida em vós” (Jo 6,54b).

Eucaristia é banquete? Sim. No entanto, trata-se de um banquete sacrifical e não simples refeição fraterna. Aqui, o Banquete é sacrifício justamente pelo fato de Corpo e Sangue não serem apenas comida e bebida, mas também “entregues”: “(...) que será entregue por vós”. O apóstolo Paulo recorda ainda as circunstâncias dramáticas em que nasceu a Eucaristia: “O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue [...]” (1Cor 11, 23).
Se é uma ceia não apenas fraterna, mas que é também sacrifical, o que isso muda? Quem comunga, além de estar recebendo o próprio Cristo e não simples pão e vinho, deve ser coerente com a sua vida de cristão. Quando a Igreja na missa faz memória da cruz, quando se oferece em sacrifício, “por Cristo, com Cristo e em Cristo” recebe como fruto principal a união íntima com Jesus, a qual gera no homem uma necessária transformação.

Neste sentido, afirma Santo Agostinho que “(...) sobre a mesa eucarística encontra-se o vosso próprio mistério (...) Deveis ser o que vedes e deveis receber o que sois”. O cristão deve unir Liturgia e vida. O documento de Aparecida nos traz uma frase interessante a esse respeito. São palavras de um sacerdote: “Minha Missa é minha vida e minha vida é uma Missa prolongada”.


Nos sacrifícios antigos o fogo era usado para consumir a vítima. O Sacerdote eterno tem o “Fogo” transformador que torna possível tão grande transformação, isto é, o Espírito Santo que santifica a oferenda viva em sacrifício agradável a Deus (cf. Ef 5,2). Este mesmo Espírito invocado na missa sobre as oferendas para que sejam transformados em Corpo e Sangue de Cristo é o que tornará possível a transformação do homem em Cristo. Na Oração Eucarística II é invocada sua vinda sobre os que vão participar no sacrifício pascal de Cristo por meio da comunhão e se pede que ele faça destes uma “oferenda permanente” e “hóstia viva” para o louvor de Deus.


A consciência desta grandeza não nos deveria fazer com que saboreássemos e experimentássemos o grande valor da Liturgia da Santa Missa e do mistério que se torna aí presente? A simbologia própria da celebração eucarística, os gestos, as palavras, não apenas permite relembrar o sacrifício histórico de Cristo, mas leva à experiência do mistério de fé, aí invisível, porém real. Essa é a motivação interior para buscarmos a Eucaristia mesmo quando a indisposição e o cansaço parecem ser mais fortes. Vamos nos encontrar não com uma idéia, mas com uma Pessoa real, com nosso Amigo e Ele mesmo nos quis chamar assim: “Não vos chamo de servos, mas de amigos”.


Maria Santíssima é modelo de fé eucarística a ser seguido. Ela nos diz: "Fazei tudo o que Ele vos disser". Ela esteve intimamente unida ao Verbo encarnado trazendo-o em seu ventre, ao concebê-lo pela força do Espírito Santo, mas assumiu a conseqüência de ser a Mãe de Cristo, comungando com sua própria vida do sacrifício de seu Filho.

Estamos no ano sacerdotal. No dia de hoje, em que recordamos a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial, rezemos por nossos padres que na Pessoa de Cristo Sacerdote tornam possível a presença da Eucaristia, Banquete Sacrifício. Que suas vidas sejam cada vez mais reflexo do grande dom que celebram.

Pe. Marcos Francisco de Amorim Oliveira

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Meu melhor Amigo morreu


O meu melhor amigo morreu numa tarde triste de sexta feira. O sol ainda era quente e o calor era intenso. Morreu de um jeito cruel. Vítima de um sistema político e religioso que não sabia entender que Deus prefere os miseráveis. Morreu porque amou demais, morreu porque não sabia mentir.
O meu melhor amigo não sabia ser indiferente. Viveu o tempo todo recolhendo os que estavam caídos e desacreditados. Ele foi um ser humano inesquecível. Entrava em lugares proibidos e dormia na casa de pessoas abomináveis. Trocou santos por Zaqueu, doutores por Mateus. Não se preocupava com que os outros estavam achando dele, mas ocupava-se de sua vida como se cada instante vivido fosse o último.
Meu melhor amigo tinha o poder de ser irreverente. Ele olhava nos olhos dos fracassados e lhes restituía a coragem perdida. Segurava nas mãos dos cansados e os convencia que ainda lhes restavam forças pra chegar.
O meu melhor amigo era desconcertante. Tinha o dom de confundir os sábios e encantar os simples. Eu um dia também me encantei com ele. Chegou num dia em que eu não sei dizer qual foi. Chegou numa hora que eu não sei precisar. Sei que chegou, sei que veio. Entrou pela porta da minha vida e nunca mais o deixei sair. Somos íntimos. Minha fala está presa à dele. Eu o admiro tanto que acabo tendo a pretensão de querer ser como ele. Já me peguei cantando pra ele os versos de Tom Jobim: “Não há você sem mim e eu não existo sem você!” Ele sorri quando eu canto.
Meu melhor amigo me ensina a ser humano. Ele me ensina que a vida é uma orquestra linda, mas dói. Ele me ensina a apreciar os acordes tristes... e aí dói menos. A beleza distrai a tristeza. Foi assim que eu assisti à sua morte na sexta feira santa. Eu sabia que era passageira. Era apenas um interlúdio feito de acordes menores, dilacerantes de tão tristes. Meu amigo não sabe ser morto. Ele gosta é de ser vivo, vivente! E é assim que eu entendo a dinâmica da Ressurreição. Quando digo: “Ele está no meio de nós!” eu estou convidando o meu amigo a ser vivo através de mim. Quem ama de verdade leva sempre a criatura amada por onde vai. E é assim que o amor vai se tornando concreto no meio de nós. É assim que a vida vai ficando eterna... e a gente vai ressuscitando aos poucos...
Hoje eu acordei mais feliz. Nada de especial me aconteceu. Apenas me recordei que meu melhor amigo ainda acredita em mim, apesar de tudo. Eu sou um legítimo representante de sua ressurreição no mundo. Não posso me esquecer disso. As pessoas olham pra mim... eu espero que elas não me vejam... eu espero que vejam o meu melhor amigo, em mim.

Padre Fábio de Melo