domingo, 4 de abril de 2010

EUCARISTIA, BAQUETE E SACRIFÍCIO


Em primeiro lugar, devemos saber que Jesus, Cordeiro Pascal imolado, em entrega de amor torna presente no tempo o seu sacrifício eficaz e eterno. A Igreja em obediência à vontade de Cristo realiza o memorial sacrifical. Assim, o memorial do sacrifício da cruz atualiza na história a salvação realizada pelo sacrifício Redentor de Cristo.
Mas, o que faz algo realizado há mais de dois mil anos atrás ser vivido hoje? Como podemos celebrar o mesmo sacrifício de Cristo? O sacrifício pascal do “eterno Sacerdote” é perpetuado no tempo pela força da Ressurreição. Quando no altar se celebra o sacrifício de Cristo se celebra a Páscoa de Cristo, pois no altar da cruz “Cristo, nossa Páscoa foi imolado”. Em seu sacrifício não está presente apenas a paixão e a morte, mas também o mistério da ressurreição, “coroação” do sacrifício de Cristo, como nos recorda João Paulo II na sua carta Ecclesia de Eucharistia, 57. E na aclamação, após a consagração, estas duas realidades vão juntas: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa Ressurreição (...)”. A cruz não anula a Ressurreição, nem a Ressurreição anula a cruz, trata-se de aspectos distintos, mas intimamente ligados: “Imolado já não morre; e, morto, vive eternamente (...)” (cf. Missal Romano, p. 423).

Um sentido profundo da Liturgia mostra tal verdade, quando a mesma busca no, “hoje”, celebrar e reviver os mistérios da salvação. A palavra é usada na missa não para enfeitar ou por beleza poética. Quando na Liturgia diz-se “hoje”, quer-se referir à realização atual do que se celebra. “Hoje”, ao se celebrar a Missa, pode-se, por isso, voltar à “hora” de Jesus, hora do Calvário, hora da glorificação. Não se recebe, por isso, na comunhão um pão que representa Jesus. Mas o seu próprio Corpo e Sangue. Não se celebra ou se participa de um novo sacrifício, mas do mesmo sacrifício de Jesus realizado há mais de dois mil anos. Conforme nos ensina o catecismo da Igreja Católica que se repete é a celebração e não o mistério, o sacrifício (cf. CIC 1104).
Em segundo lugar, vamos à celebração eucarística não simplesmente para assistir; queremos participar. Quando somos convidados por um amigo para uma refeição, não ficamos longe da mesa olhando. O gesto de cear com alguém demonstra proximidade e amizade. A comunhão com Cristo e, por isso, com seu sacrifício se dá de modo real ao se “comer” e “beber”, ao se participar do “Banquete do Cordeiro”. A necessidade de tal comunhão, a modo de ceia, de banquete, é expressa pelo próprio Cristo: “(...) se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes seu sangue não tereis a vida em vós” (Jo 6,54b).

Eucaristia é banquete? Sim. No entanto, trata-se de um banquete sacrifical e não simples refeição fraterna. Aqui, o Banquete é sacrifício justamente pelo fato de Corpo e Sangue não serem apenas comida e bebida, mas também “entregues”: “(...) que será entregue por vós”. O apóstolo Paulo recorda ainda as circunstâncias dramáticas em que nasceu a Eucaristia: “O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue [...]” (1Cor 11, 23).
Se é uma ceia não apenas fraterna, mas que é também sacrifical, o que isso muda? Quem comunga, além de estar recebendo o próprio Cristo e não simples pão e vinho, deve ser coerente com a sua vida de cristão. Quando a Igreja na missa faz memória da cruz, quando se oferece em sacrifício, “por Cristo, com Cristo e em Cristo” recebe como fruto principal a união íntima com Jesus, a qual gera no homem uma necessária transformação.

Neste sentido, afirma Santo Agostinho que “(...) sobre a mesa eucarística encontra-se o vosso próprio mistério (...) Deveis ser o que vedes e deveis receber o que sois”. O cristão deve unir Liturgia e vida. O documento de Aparecida nos traz uma frase interessante a esse respeito. São palavras de um sacerdote: “Minha Missa é minha vida e minha vida é uma Missa prolongada”.


Nos sacrifícios antigos o fogo era usado para consumir a vítima. O Sacerdote eterno tem o “Fogo” transformador que torna possível tão grande transformação, isto é, o Espírito Santo que santifica a oferenda viva em sacrifício agradável a Deus (cf. Ef 5,2). Este mesmo Espírito invocado na missa sobre as oferendas para que sejam transformados em Corpo e Sangue de Cristo é o que tornará possível a transformação do homem em Cristo. Na Oração Eucarística II é invocada sua vinda sobre os que vão participar no sacrifício pascal de Cristo por meio da comunhão e se pede que ele faça destes uma “oferenda permanente” e “hóstia viva” para o louvor de Deus.


A consciência desta grandeza não nos deveria fazer com que saboreássemos e experimentássemos o grande valor da Liturgia da Santa Missa e do mistério que se torna aí presente? A simbologia própria da celebração eucarística, os gestos, as palavras, não apenas permite relembrar o sacrifício histórico de Cristo, mas leva à experiência do mistério de fé, aí invisível, porém real. Essa é a motivação interior para buscarmos a Eucaristia mesmo quando a indisposição e o cansaço parecem ser mais fortes. Vamos nos encontrar não com uma idéia, mas com uma Pessoa real, com nosso Amigo e Ele mesmo nos quis chamar assim: “Não vos chamo de servos, mas de amigos”.


Maria Santíssima é modelo de fé eucarística a ser seguido. Ela nos diz: "Fazei tudo o que Ele vos disser". Ela esteve intimamente unida ao Verbo encarnado trazendo-o em seu ventre, ao concebê-lo pela força do Espírito Santo, mas assumiu a conseqüência de ser a Mãe de Cristo, comungando com sua própria vida do sacrifício de seu Filho.

Estamos no ano sacerdotal. No dia de hoje, em que recordamos a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial, rezemos por nossos padres que na Pessoa de Cristo Sacerdote tornam possível a presença da Eucaristia, Banquete Sacrifício. Que suas vidas sejam cada vez mais reflexo do grande dom que celebram.

Pe. Marcos Francisco de Amorim Oliveira

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