sábado, 19 de fevereiro de 2011

Divã


Olho para trás e só vejo pedaços. Fragmentos de uma vida. Frações de sentimentos. Existência esquartejada pela covardia que sempre me acompanhou.
Uma couraça de força escondendo uma alma translúcida, de tão frágil.
Alma que usa máscaras, que se disfarça de outra.
Porque tanto medo se ser verdade?
Qual parte da vida dividiu a ação da vontade?
Quanto choro contido, quanto riso sufocado.
A quem eu engano?
Olho e não me vejo. Busco e não me encontro.
Tramas e cores não correspondem à imagem que meus olhos fazem do rosto que se reflete agora no espelho.
Em que parte da jornada corpo e alma se separaram?
Quem me vê não me enxerga.
Sou o oposto do que apresento à vida agora.
Olhos mais atentos percebem, mas não falam.
Emoldura-se em minha face, a pintura de um entardecer sereno.
Configura-se em minha alma o esplendor do sol nascente.
Sou a síntese de um poema triste. Que mesmo que não se faça entende, faz-se sentir...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Alma Nua


Mais que o corpo que deito a teus pés, fica a alma nua ao te escrever estas palavras. Caderno vazio, palavras vãs. Sei o que fiz no passado. Não sei se o futuro será melhor, ou pior. Sei que sofro em silêncio pelo que amei e pelo que deixei de amar... Por tudo o que não fiz na vida por receio de errar.
Olho para o infinito e penso no que será a realidade, no que poderei escrever sobre ela. Não me encontro ao olhar no espelho. Não compreendo certas dores. As vezes sinto-me à beira de um poço, e se cair já ninguém me pode agarrar. Quero entregar-me ao silêncio e a escuridão que se abate sobre o meu ser, pois é na escuridão que se evidencia qualquer réstia de luz...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Contrário


O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

Marta Medeiros

Razão e Emoção


Razão e emoção!
Quem consegue equilibrar esses dois pontos na vida, pode-se considerar em paz...
O que nos faz sofrer é a dissonância entre o que queremos e o que podemos.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Correnteza


Refaço a mim a mesma promessa de não desperdiçar a vida...
Quero sorver o todo desse breve instante de existir
Que meus olhos se fixem naquilo que posso.
O que não cabe a mim deixo o rio do tempo levar...