terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Resumo...


Manhã cedo, no pingar de um sol que se alimenta de pele.
Hoje vesti-me de negro, sapatos enfiados no presságio de um dia lamento; E sabe-se lá porquê, é molde preguiçoso de uma vontade que se teima cinzenta.
Lavo os dentes até ao cérebro, penteio os cabelos com mãos de alicate, cerco-me de um perfume que não cheira, cheira-me a monotonia ao procurar nos bolsos o dinheiro dos dias. E é num rompante que abro a porta ao medo, saco de lixo na mão e uma canção que não me deixa pensar.
Lá fora, o vento. O vento que me esbofeteia na violência de um despertar na rua, essa artéria crua onde os passos, na enorme pressa de a cumprir, mais parecem ser cúmplices do vagar. Cá fora, o vento. E no peito uma espada, atravessada, em que uma mão incolor a torce porque sim, porque a mente deambula por curvas e rectas, rotundas e setas, porque é óbvio que lhe basta uma parte do verbo negar, porque tantas são as vezes em que caminho sem pensar, mas a espada é cativa e a dor um vício que a alma – inconsciente – alimenta. Tal como as mãos da sofreguidão, na razão diária de querer esquecer e, porém, nada faça para o merecer.
Manhã cedo, neste cais. Navego sem velas e não me guio pelas estrelas, também o meu fundo não é o mar, é mais um tapete gasto e áspero, de onde parto na viagem rotina, dobrando esquinas – todas iguais – lambendo colinas e o sol, o que se alimenta da pele, tudo percebe, até o motivo porque digo navegar quando, no rosto da verdade, nada mais me é permitido do que a garantia que voltarei a atracar.

Um comentário:

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